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                    MACCHU PICCHU  e CHICLAYO - PERU 
                    13-12-2006
   
   
                    Acordamos às 4 da manhã para a excursão a Macchu Picchu.  
                  Para Nildo, é uma grande aventura, vale qualquer sacrifício. Eu vou pela  terceira vez,  mas com renovado  interesse. A viagem é longa. 
                   
                    Saímos no frio andino, em direção ao Vale Sagrado, do outro lado das montanhas,  por uma estrada de curvas, até a estação de trem, durante quase duas horas. 
                    A viagem de trem até Águas Calientes dura 1 hora e 20 minutos, numa paisagem  surpreendentemente  tropical, cada vez  mais verde e mais luxuriante.   
                   
                    Começa com cactos e 1 puyas agressivas e termina  com bromélias epífitas, helicônias florescentes e muita umidade. 
                    O trem serpenteando entre árvores frondosas, pelos cortes abruptos nas rochas  vivas, acompanhando o leito pedregoso de um rio cristalino.  
                   
                    Centenas de turistas de todas as partes do mundo. 
                    A subida até os templos de pedra da cidade sagrada dos incas é por um caminho  de terra que começa nas encostas ascendentes. O fluxo de micro-ônibus é intenso  e há espaço apenas para um veículo, exigindo esperas nos estreitos acostamentos  em lugares estratégicos. 
                   
                    Macchu Picchu é esplendida, fascinante, em diversas alturas, construída  inteiramente com pedras caprichosamente talhadas e encaixadas. Uma engenharia  avançada, perfeita! 
                    Pórticos, fontes, altares, aposentos, escadarias, mirantes. 
                    Uma sucessão de blocos de construções devocionais, e de uso comunitário ou  individual, como a do grande Inca. 
                     
                    A visão dos vales e da cordilheira é indescritivelmente bela, formando um  conjunto urbanístico ímpar no mundo.  
                    O guia é indígena e conhece bem todos os detalhes da cidadela e de sua  história, está bem preparado para o ofício. Orgulhoso de sua própria origem,  comunicativo, falastrão. Simpático, sem dúvida. 
                   
                    Almoçamos no povoado de Macchu Picchu, uma vila totalmente remodelada, com uma  nova e confortável estação ferroviária, com um espaçoso centro comercial de  artesanatos. As cadeiras do restaurante ficavam às margens dos trilhos, por  onde passavam comboios.  
                    O peixe servido — uma truta rosada com molho de cebolas  e pimentões — estava “divino”, para usar um  adjetivo da própria dona do estabelecimento. 
                   
                    O tempo estava mais “despojado” no caminho de volta, permitindo ver alguns  picos cobertos de neve, os vales profundos e os casarios de tijolos pardacentos  ou avermelhados, em triste cenário.  
                    A música andina do transporte, de um lânguido soprar de “quenas”.  
                     
                    Pela noite fomos a um espetáculo de danças típicas da região — carnavalitos e  “marineras” — bastante repetitivos, ingênuos, com uma sutil picardia, um  galanteio romântico. Muito simpático.  
                   
                    O terceiro dia de excursão foi o mais fatigante mas, eu ainda não conhecia a  rota do Vale Sagrado dos Incas. 
                    O primeiro estágio foi na localidade de Ollantaytambo, de onde se parte para as  ruínas.  O transporte chega a um ponto  alto da montanha e o acesso é a pé, por um caminho estreito nas bordas do  despenhadeiro, subindo e descendo por mais de um quilômetro. Como a pressão  atmosférica é baixa, e falta ar, o cansaço chega cedo. Alguns turistas  desistem... 
                    Muralhas, portais, setores religiosos e públicos, e a vista fantástica dos  picos e vales... Construídas em terraças íngremes, o acesso é desconfortável.  Em algumas posições corre um vento forte e gelado. 
                   
                    A segunda cidade sagrada é Písac. Em baixo, o povoado com suas “praças de  armas”, as feiras de artesanato,  e logo  a subida para os templos em terreno inclinado.   
                    A engenharia de construção é a mesma: com imensos blocos de pedra perfeitamente  lapidados para garantir os ajustes na montagem dos muros. Não usam argamassas,  trabalham exclusivamente com a lei da gravidade.  
                     
                    Resistem aos terremotos, enquanto as construções coloniais espanholas  desmoronaram como baralhos.  
                    Os guias, orgulhosos de sua tecnologia, fazem um jogo de palavras para  estabelecer a “diferença” na arquitetura: “estes são os incas, estes são os  incapazes”... piada que deve irritar muito os turistas espanhóis... 
                  Os  guias que nos acompanharam nas viagens eram  sempre descendentes dos quéchuas, bem preparados, solícitos, amáveis,  sorridentes.  Dão informações  generalistas, mas úteis sobre as origens da civilização “quéchua” (conhecida  por “inca” que, em verdade, se refere ao supremo mandatário). Outras  civilizações antecederam o Império Inca e todas deixaram um legado importante,  principalmente na arquitetura e astronomia, mas também nos sistemas de  transporte, na culinária, em tudo. 
                    Em Macchu Picchu eles encontraram as pedreiras no próprio local das  edificações.  
                   
                    Em   Ollantaytambo, por exemplo, tiveram que transportá-las de longe e depois  levantá-las até as terraças indígenas, valendo-se de um sistema complexo, que incluía  movê-las sobre tiras de madeiras e depois subi-las por uma espécie de  funicular.  Como não conheciam a roda,  era mais difícil a movimentação dos imensos blocos de pedras vulcânicas, de até  600 toneladas, trabalho para centenas de trabalhadores, mesmo recorrendo às  diversas tecnologias de movimentação. 
                    
                  O  que mais surpreende são os encaixes perfeitos dos blocos, suas cores e  superposições em que não cabe nem um alfinete de tão bem ajustados.  Informaram-nos que devem ter recebido instruções de algum arquiteto do povo de Tiahuanaco,  da Bolívia, mestres nessas construções. 
                    Os quéchuas (ou incas) devem ter passado — como os antigos egípcios — quase  todas as suas vidas, carregando pedras votivas.   
                   
                    A parte mais surpreendente da excursão foi a visita a Chinclayo no fim da  tarde, um “pueblo” no ápice e da montanha a 3.800 metros de altura.  Mezcla de arquitetura indígena com o colonial  barroco, uma verdadeira cidadela, com um imenso mercado ao ar livre. Ruelas  estreitas, escorregadias, igrejas, residências conjugadas como quarteirões  sólidos de construção colonial. O mais espetacular é uma igreja Santa Maria, do  século XVIII, com uma decoração eclética que recorre ao barroco mais rococó com  detalhes ornamentais  estilo mudéjar (moçárabe).  
                    Na região destacam-se alguns picos nevados, plantações de batatas, tipos  estranhos de milho e de batatas e tubérculos autóctones.   
                  
                    
                      
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                  1 Puya  é um gênero de plantas terrestres da família Bromeliaceae, nativas dos  Andes na América do Sul e do sul da América Central. São conhecidas por  suas rosetas de folhas e inflorescências espetaculares. Algumas espécies,  como a Puya raimondii, são notáveis por seu tamanho, com espigas florais que  podem atingir até 10 metros de altura.  
                
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